O odor da tília — tilleul em francês — me transporta para algum lugar de um paraíso. Todo o meu corpo se perde nesse prazer. Já não sinto mais os odores negativos da cidade, não vejo mais os sem-teto que vivem nas ruas e nas tendas espalhadas por cantos discretos. O odor dessa flor, que exala perfume durante quinze dias, é um prazer imenso.
Outro deleite desta primavera sa é colher frutas do pé. Nêspera — nome estranho, que nunca tinha ouvido no Brasil, mas que, nesses tempos de globalização, se pode encontrar em muitos lugares — foi a primeira fruta do ano que comi, depois de colhê-la no Parque André Citroën. Sim, ele, o parque, foi construído onde, no ado, existia a fábrica da empresa sa que produzia carros.
Vivemos o tempo das cerejas que, por falta de sol no mês de maio, só agora será possível colher. Talvez eu consiga uma casa de amigos nos arredores de Paris para poder colher. Logo mais teremos maçãs, peras, amoras. Moranguinhos já temos, com todo o perfume e os sabores das frutas da estação.
Enquanto, no Ano do Brasil na França, grupos musicais fazem os ses dançarem nas festas juninas — depois das explicações —, as crianças aguardam o fim de junho para partir de férias escolares, encerrando o ano letivo. Dois longos meses para ir à praia, viajar, descobrir novos lugares… e esquecer os cadernos.
Mazé Torquato Chotil – Jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP antes de chegar em Paris em 1985. Agora vive entre Paris, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora da UEELP – União Européia de escritores de língua Portuguesa. Escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.