Integrantes da cúpula das Forças Armadas acompanharam com lupa os depoimentos dos réus da trama golpista. A atenção esteve voltada, especialmente, para os militares da reserva que estão sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A avaliação de integrantes da caserna é que, apesar do ex-ministro do GSI, o general Augusto Heleno, ter sido poupado pelo delator Mauro Cid, ele se enroscou nas próprias palavras. Os militares consideraram que, mesmo com a decisão de responder apenas a perguntas do seu advogado, Heleno conseguiu ter o pior desempenho e deixou dúvidas, em diversos momentos, sobre sua posição legalista.
— A mensagem que ou é que só não avançou com o golpe porque não houve espaço. Ele precisava ter sido enfático de que era contra qualquer ruptura institucional — destacou um militar de alta patente.
Outro réu criticado pelos integrantes das Forças Armadas foi o ex-ministro e ex-candidato a vice de Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto. Nenhum membro da cúpula militar acreditou na versão do general da reserva de que não foi ele quem escreveu mensagens determinando ataques a colegas como o atual comandante do Exército, Tomás Paiva, e seu antecessor, Freire Gomes.
Outro militar que também despertou desconfiança entre os colegas foi o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos. Apesar de ter falado com segurança, na avaliação da cúpula das Forças, a versão que apresentou sobre não ter colocado suas tropas à disposição de Bolsonaro para um golpe não foi considerada crível.
Entre todos os militares depoentes, o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, foi o que teve o melhor desempenho, na leitura de membros das Forças. A avaliação é que ele não foi implicado por Mauro Cid diretamente na trama e que conseguiu apresentar a sua versão dos fatos com clareza. Pontuaram, no entanto, que o momento em que ele deu uma bronca no próprio advogado foi ruim.
Não há, porém, expectativa de que algum desses militares seja absolvido. A atual cúpula faz questão de deixar claro que os réus fardados não são problemas das Forças Armadas e que as investigações conseguiram separar o F da instituição.
Bela Megale/O Globo