No melhor estilo Pinóquio, Jair Bolsonaro aproveitou seu depoimento, ontem, no STF, para relembrar os tempos de cercadinho — aquele cenário em que era sempre cercado por fãs e jornalistas durante o período em que residiu no Alvorada, para os “memorandos” do dia. Cinismo puro. Essa é a avaliação do ContrapontoMS para o showzinho protagonizado pelo ex-presidente ao longo de mais de duas horas de depoimento.
De novo, lá estava um pedido de desculpas, depois de dizer que não tinha como comprovar suas acusações ao relator do processo, Bolsonaro alegou que “brincava” quando disse que Alexandre de Moraes e outros ministros da Corte recebiam até 60 milhões de dólares por suas sentenças.
Mas o mais grave viria logo adiante — numa bravata mal ensaiada. Bolsonaro perguntou a Xandão se poderia fazer uma brincadeira. O relator, comedidamente, sugeriu que ele consultasse antes seu advogado. Ignorando a orientação, Bolsonaro disparou, convidando o ministro para ser seu candidato a vice-presidente nas eleições do ano que vem.
Total falta de noção? Ou talvez uma cutucada intencional na onça com vara curta, uma estratégia suicida, na “esperança” de sair dali algemado e, enfim, entronizado como novo mártir nacional?
Porque, convenhamos: com tal despropósito — uma “brincadeira” sem qualquer graça — o mito zombou de seu algoz como se o tão temido e escrachado (pelo bolsonarismo) Moraes fosse um político vulgar, afeito às falcatruas que Bolsonaro tanto diz combater.
Pior: antecipou-se à própria sentença. Afinal, se acha que vai disputar eleição no ano que vem, considera-se inimputável pelos graves crimes pelos quais agora responde. E mais grave ainda — “ignora” que já está condenado pelo TSE, com os direitos políticos cassados. Ou seja, inelegível.
Risível, aliás, o tom de todo o depoimento, com Bolsonaro falando como se tivesse uma batata quente na boca, principalmente quando o autoproclamado condutor do gado pediu clemência, dizendo-se inocente — apesar da robustez das provas e da consistência das denúncias.