Dói, dói, dói!
O que dói?
A separação.
Ela, a mãe, nunca pensou que a filha pudesse cogitar uma separação entre elas. Não vê-la. Por um tempo? Quanto tempo? Uma eternidade! Pensava ter feito o melhor por ela: uma educação que julgava de qualidade, com valores éticos, cuidados físicos e mentais. Acreditava ter lhe dado afeto, as bases para que se desenvolvesse como pessoa humana. Usou de autoridade, impôs limites — sem autoritarismo. Com direitos, deveres e respeito ao outro.
Deu-lhe segurança emocional?
Será que soube, de fato, “fazer o seu trabalho”? Talvez não tenha sabido, se considerar que a filha precisou dizer um basta à relação. Pelo menos por um tempo. Onde foi que ela falhou?
Quis dar à filha uma educação diferente da que teve. Nunca culpou os próprios pais por não lhe darem o que achava ser obrigação deles. Coitados, fizeram o que puderam com os meios que possuíam. Ela leu livros sobre como educar, tentou ouvir experiências, tentou ser mãe. Uma tarefa nem sempre fácil. Ainda assim, acreditava não ter se saído tão mal. Mas… não!
A filha faz parte de uma nova geração, que tem outras formas de abordar o mundo. Mas o diálogo deve ser possível em toda e qualquer circunstância, não?
A filha não teve as palavras que o diálogo exige? Tem medo de dizer algo que possa ser imperdoável? Precisa de tempo para istrar suas emoções?
Os pais continuam sendo uma referência forte para os filhos. E os filhos precisam cortar o cordão umbilical. Serem eles mesmos, sem a influência que possa impedi-los de fazer suas próprias escolhas. Sim! Mas seria necessária uma ruptura para isso?
A mãe se pergunta se esteve, de fato, sempre aberta à escuta. Se deu o afeto de que a filha precisava.
A mãe diz, de longe, esperando que a filha ouça:
Perdoa-me, perdoa-me, filha querida.
Mazé Torquato Chotil – Jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP antes de chegar em Paris em 1985. Agora vive entre Paris, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora da UEELP – União Européia de escritores de língua Portuguesa. Escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.